quinta-feira, 15 de março de 2018

Expressar-se

Sentimentos: ô coisa difícil de se entender e de se comunicar. No primeiro momento não é incomum sentir dificuldade de detectar exatamente o que se sente. "Me sinto frustrada". Ok, mas quando se sente frustrada, se sente irritada, triste, como? Depois que li a lista de sentimentos que Marshall Rosenberg¹ apresenta no livro Comunicação Não-Violenta - Técnicas para Aprimorar Relacionamentos Pessoais e Profissionais, percebi que tinha muito sentimento que eu colocava com a mesma etiqueta, mas que em realidade era diferente.

Uma vez detectado o sentimento, vem o desafio: como comunicar o que sinto? Se me preocupo em construir uma relação pacífica e empática com o interlocutor, aconselho você, leitor ou leitora, a conhecer um pouco mais sobre a comunicação não-violenta.

Sem teorizar demais, trago um caso dividido comigo por um amigo. Seu cunhado, apesar de sempre presente nas reuniões de família em sua casa, nunca chegava a convidá-lo para qualquer coisa que fosse. O irmão de sua esposa tinha uma boa relação com ele, mas não se falavam muito além desses momentos de encontro presencial. Esses encontros, porém, acabavam por gerar conversas empolgadas e aproximava-os um pouco mais. Meu amigo, digamos que seu nome seja Pedro (é claro que protegerei sua identidade), inicialmente não ficava incomodado. Sempre encontrava justificativa plausível para a ausência de um convite para sair ou fazer uma visita, ainda que nunca dita a ele pelo cunhado ou por qualquer outra pessoa. Com o tempo, porém, ele começou a sentir-se esquecido. Como se aqueles momentos passados com o familiar por tantos anos não significassem nada.

Um dia Pedro decidiu falar o que sentia a Rodrigo. Mesmo sem nunca ter lido o livro anteriormente mencionado, seguiu algo que Rosenberg considera extremamente importante: expressar o que se sente. Afinal, seu cunhado não tinha bola de cristal e seria impossível adivinhar todas as pessoas que poderiam ter se chateado com ele.

Dito isso, reflito eu aqui junto com você. Ainda tenho algumas dificuldades quanto a isso, sabe? Medo de parecer ridícula por me importar, por vezes, com coisas consideradas pequenas por outras pessoas, medo de que a minha palavra seja mal-recebida, medo de criar um climão... E só de escrever isso já comecei a ficar alerta: que tanto medo é esse de ser autêntica e honesta com o que sinto? Os medos vem do orgulho, e isso bem sei, mas que o orgulho seja engolido, então. Quem eu sou, como me sinto, é muito mais importante do que os outros pensam sobre mim! E isso só eu determino.

Quando foi que ficamos tão dependentes do que os outros pensam? Tão temerosos de não discutir assuntos que nos incomodam... Mas eles precisam ser conversados. De que adiante não "criar climão" com o vizinho se estou ressentida com o que ele fez? É preciso ser conversado. Desejo construir sempre uma relação de paz e empatia com o outro, mas esses sentimentos precisam estar relacionados também a mim mesma - paz e consideração aos meus sentimentos.

Sem mais abafar o que sinto por uma paz que fica sendo só externa. Quero a paz primeiro aqui dentro e a construção de uma relação de profundo respeito por quem sou, pelo que sinto e por como me expresso ao mundo.

Ninguém fará isso por mim. Nem por você.







¹ Psicólogo americano, desenvolvedor do método de comunicação não-violenta. 

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Segura a minha mão

Somos nós herdeiros das constelações
Eternos companheiros das estradas imortais
Que nos levam aos confins e mesmo lá
Eu encontro você, estamos em todos caminhos bons
Cores e sons... novo viver, novo cantar
Nosso coração nos diz da ânsia de se ver feliz
Da busca sem descanso de um motivo pra viver
Encontrar enfim a razão pra vencer
Eu encontro você, estamos em todos caminhos bons
Somos irmãos... novo cantar, novo viver, nosso coração...

Bons Caminhos
Joelson Queiroz



domingo, 13 de novembro de 2016

Aprendiz de jardineiro

Se estamos acostumados a pensar apenas no que os outros podem fazer por nós, experienciar o contrário pode ser uma excelente ideia. Mas de que forma pode-se exercitar a empatia, quando ainda se está tão concentrado em si mesmo?
Em que é possível ajudar, somar, semear, fazer crescer, com as mãos, ouvidos, palavras e pensamentos? Em que a sensibilidade ou o silêncio podem ser úteis?

Muitas pessoas ainda acreditam que ajudar alguém, da forma que for, é investimento para o futuro, para receber retorno quando precisar. Há aqueles que pensam que se dispor a cooperar com o outro é um ato de doação, total ou parcial. E que esperar algo em troca é alimentar expectativas que podem gerar uma futura decepção. Existe os que creem que bom, mesmo, é ajudar quando nada será recebido em troca. Além de um "obrigado", é claro, e uns elogios. Mas tudo espontâneo, hein. Nada obrigatório. E, ainda, há quem queira apenas que o outro alcance o que precisa. Sem expectativas futuras, sem demonstrações de gratidão. Ele se alegra em notar que seu movimento foi efetivo na conquista do outro.

Cada um só poderá avaliar a si mesmo com relação a que intenção e sentimento foi acionado ao colaborar com outra pessoa. Mas, diante da pluralidade das ações e sentimentos, surge a reflexão: O que se pode entender como caridade?




Caridade é amor em movimento. Mais que doar, ela busca doar-se. É resultado de importar-se com alguém além de si mesmo e da decisão de utilizar seus recursos para ajudar aquele com quem se importa. Já se sabe que não se transforma o mundo com um só projeto, com um só grupo. É clichê dizer que é preciso que todos mudem para que essa transformação de concretize. Clichê, mas verdadeiro. Nesse vai e vem de transferências de responsabilidade, há um projeto que ninguém além de cada um nós pode implementar: o da autotransformação; buscando sermos mais humanos, éticos, mais preocupados com outros e mais empáticos aos desafios, dores e dificuldades daqueles que conosco cruzam a caminhada, nesse mundão de desigualdades de todos os tipos. Um segundo projeto com o qual podemos colaborar, tão importante quanto o primeiro, é o da caridade. E ele traz consequências profundas.

Quando nos propomos a ajudar alguém, passamos a fazer parte de uma rede gigantesca de pessoas que se importam

  • No ato de ouvir o idoso que sentou ao seu lado no ônibus, e que deseja falar sobre a sua vida e, muitas vezes, nem tem com quem; 
  • na disposição de mobilizar amigos e familiares para arrecadar recursos e doar a uma instituição filantrópica ou a uma família que esteja necessitando de ajuda; 
  • ao perceber um olhar diferente de um companheiro de trabalho, faculdade ou qualquer outro lugar que se frequente, e, sem invadir sua vida, demonstrar que se importa e que está disponível para conversar sobre o que for; 
  • ao oferecer o assento em que está sentado, no transporte público, para alguém que esteja precisando;
  • ao abraçar um amigo que passa por um momento de dor;
  • entre muuuuuuuuuuitas outras ações.
Parece, a partir de óculos pré-ajustados, que o mundo, o país e a sociedade estão caóticos, que o mal vem ganhando espaço e que os homens e mulheres de bem vem sendo afetados em seus direitos, em seu bem-estar. Mas se a gente souber afinar o nosso olhar e ajustar os óculos, iremos notar: podemos, cada um de nós, distribuir o que o outro precisa. A oportunidade, o ensinamento, a necessidade imediata, o apoio emocional. E, além de regar a sementeira da vida com a água do amor, estaremos nutrindo, também, em nós, essa semente de bondade, de amor ao próximo e de esperança. Basta, apenas, acreditar que se é um aprendiz a jardineiro e estar disposto a realizar o seu ofício.




segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Eu posso

"Já tá ficando escuro, meu amor
Melhor sair daqui enquanto é tempo
Os dias andam estranhos, eu te entendo
Também queria um pouco de calor"
Leoni

O momento que os brasileiros e brasileiras vivem é, no mínimo, esquisito. Um vírus de desesperança, desespero, revolta e irritação que consome boa parte da população é contagioso e transmitimos entre nós, que se multiplica quando atinge o interior de nossas células. Talvez digamos: "não sei lidar". Talvez pensemos: "Não há o que fazer". Eu digo, porém: Não há no mundo quem possa mudar as coisas se não cada um de nós. Eu, aquela que escreve, poderei revogar leis e medidas provisórias aprovadas? Não. Poderei impedir os cortes na verba destina à educação, saúde, esporte e cultura? Não. Mas eu, você, e todos nós juntos podemos fazer o que o governo, nesse momento, não consegue: olhar dentro dos olhos/ler a história/ouvir o relato dos outros e se importar. Nós podemos nos importar.
Não convoco ninguém, aqui, a levantar uma guerra àquele que não tem empatia. Quiçá pra transformar esse "importar-se" em resultado de uma mescla de revolta contra quem não olha pelos nossos direitos e ira diante de quem ainda concorda. Eu não convoco ninguém, repito, ninguém, a fazer nada; apenas convido. Mas convoco a mim mesma a pôr mais afeto nas minhas palavras e nas minhas ações. A ter mais disponibilidade pra ajudar o outro. A ser refúgio para mim mesma de bons sentimentos e perspectivas, pra que com elas eu possa ser útil em ajudar a colorir os óculos preto e branco de quem foi pego pelo vírus. Eu convoco a mim mesma a me vacinar com esperança inesgotável e oferecer paciência e gotas de ânimo a quem foi infectado. 

Se existe a ausência daquele que, na nação, deveria zelar por nós, pelo nosso acesso aos direitos básicos para nossa sobrevivência e bem-estar, zelemos uns pelos outros! Aos cristãos: sejamos "o próximo" uns dos outros! Seja qual for a nossa religião dentro do cristianismo. Aos ateus e agnósticos: sejamos úteis uns aos outros! Formemos uma grande comunidade solidária! Quantos talvez não precisem daquilo que temos em abundância, como comida, roupas, cobertores, oportunidades, instrução, atenção? Quantos talvez não tenham pra dar aquilo de que precisamos?

"Seremos, no amanhã, uma grande família
Com certeza nossas vozes vencerão em coro
Todo o mal"
Ariovaldo Filho

Não é preciso que compartilhemos da mesma filosofia, religião, opinião. Mas se a gente souber se importar do jeito certo, sem julgar, sem acusar, mas compreendendo e respeitando quem o outro é, essa comunidade irá crescer e florescer como a maior e mais belo coletivo que o mundo já viu: o coletivo da solidariedade, do bem, e do amor.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Simplicidade de viver


Doce é sentir em meu coração
Humildemente vai nascendo o amor
Doce é saber, não estou sozinha
Sou uma parte de uma imensa vida

Que generosa reluz em torno a mim
Imenso dom do seu amor sem fim

O céu nos deste e as estrelas claras
Nosso irmão sol, nossa irmã a lua
Nossa mãe terra com frutos, campos, flores 
O fogo e o vento, o ar e a água pura
Fonte de vida de tua criatura


Que generosa reluz em torno a mim
Imenso dom do seu amor sem fim

Música: Doce é Sentir
Compositores adaptadores: Nei Fernandes e Jadiel


terça-feira, 6 de setembro de 2016

Prossiga

Os jardins encantam muitos de nós. A beleza de uma flor nos faz sentir que o acaso não pode ter gerado essa sutileza tão bela de se observar; só de estar perto dela já podemos sentir um bem-estar. Dança sob a regência do vento e coroa esse momento espalhando seu perfume por toda parte. Mas as flores, antes de chegarem ao seu momento esplendoroso, pleno de vida e de encantadora beleza, são apenas sementes.

As sementes precisam ser plantadas em solo fértil, para que tenham a condição de se desenvolver. O sol, a água, o calor e o cuidado do jardineiro se fazem indispensáveis. Certamente que o jardim pode passar por dificuldades, como pragas e excesso de calor. Mas ainda assim a flor, com sua força, pode continuar a crescer, se desenvolver, ser polinizada e, mais tarde, ter suas sementes espalhadas.

Na própria natureza encontramos espécies que enfrentam dificuldades para chegar à sua plenitude. Nós, por outro lado, reclamamos de cada pequenina pedra que surge no nosso caminho, esquecendo que somos, nós mesmos, flores. Apesar das dificuldades, cresceremos. Espalharemos à nossa volta o que há no nosso interior. Encontraremos nossa plenitude ao encarar com naturalidade esses processos e nunca deixar de aproveitá-los para crescer.

Se nos faltar a coragem, lembremos: elas poderiam ficar escondidas na terra, mas a própria natureza das flores é florescer. Assim como a nossa é crescer, servir e amar.

"Pega o arado e prosegue sorrindo na tua tarefa
Ama, trabalha e semeia e espera
[...] 
Andai como filhos da luz, tua missão é iluminar
Vós sois todos filhos da luz, espalhai tua luz em todo lugar"